Vinte e Um - Perdido Nesse Século

Vida nossa vida.

Em nossa vida cultivamos a estima social de fato, mas há uma questão a se pensar, até quando a estima social relacional pode me prejudicar?

Bom, a autonomia nos produz a qualidade de viver sabendo adequar-se à regra sem deixar a pessoalidade de lado, mas, quando a pessoalidade não está ligada a liberdade de escolha sob a regra como a intenção de seguir apenas a tendência por decisão ou não, mas apenas por imposição social ou necessidade de ser estimado pelos outros, acaba produzindo um aprisionamento que reduz sua personificação. Sabemos que a personalidade é uma confluência de fatores históricos na formação psíquica, o auto-entendimento e o juízo em relação ao que é o outro, mas a transição do eu para o querer ser como todos, gera uma contraposição interior que se não superada produz uma frustração e baixo estima capaz de consumir nossas energias vitais, nos levando ao fluxo profundo de ansiedade como necessidade de se adequar ou de pessimismo interior levando a uma percepção de ser incapaz de todas as suas práticas cotidianas, pois os princípios norteadores de satisfação estão sempre dependendo de um juízo de valor externo, fazendo com que se procure nas outras pessoas aquilo que deveria depender exclusivamente da nossa recompensa pessoal, e a meta de satisfação permanece distante aprisionado na interpretação alheia.

 Em meio a toda essa coisa social. 

Em uma sociedade como a nossa na qual o tempo de percepção foi alterado pela velocidade dos recursos de tecnologia e pela produção de propaganda e de um pseudo status ideal de vida. Cabalmente nos inserimos ao afastamento do conhecimento próprio e do tempo dos processos da vida. Estamos sempre em contato com tudo e com todos, mas não em contato com nós mesmos, e precisamos responder ou estar de acordo com as novas tendências que nem nos perguntamos se estas nos sãos prejudiciais ou não. Nos refugiamos sobre elas sob uma intenção inconsciente de sentir-se mais aceito, porém somos despersonificados e vamos fazendo dancinhas, utilizando filtros ou postando foto só para ter um lugar em meio a: essa coisa toda social, onde do dia para noite ela  reavalia e reproduz em escala industrial novos modos de vida, de glória e de felicidade. Uma felicidade medidas em likes, ou melhor uma felicidade da dependência tecnológica e emocional.

Independência ou morte. 

Quantas vezes nos colocamos imposições das quais mal conseguimos viver?

 Na Universidade, por quanto ouvimos: tive que matar aula para estudar?

 Frequentemente não nos damos tempo de descanso, estamos diante de um sistema de ensino no qual é preciso produzir para mostrar que se possui conhecimento, e este quase utópico está longe da aplicação em nossas vidas cotidianas. Estudar para um dia passar num concurso...

Um dia passar no Enem...

Um dia conseguir um bom trabalho...

Um dia, um dia, um dia...

Nossa meta é possuir uma condição boa e favorável no futuro, mas vamos depreciando nossa saúde mental, afetiva e corporal como uma batalha do qual só ganharemos a guerra após todo esse sacrifício. Finais de semana não pensamos em outra coisa a não ser estudar ou nos sentir depressivos e errados por não tocar nos livros, caso tenhamos deixado isso de lado. Não sendo contra que se estude muito, mas tudo tem seu tempo. E que pelo menos que se tenha um tempo para encontrar suas atividades físicas, seus filmes, seus passeios, suas viagens e as pessoas que te fazem você.

As festas permeiam nossas universidades, as vezes festas de pessoas vazias, cansadas que precisam extravasar seus estresses, pois longe dos amigos e família desejam ir ao encontro de outros na mesma situação para aliviar o peso. E vamos nos metendo em festinhas como um pão e circo romano, que nos fazem esquecer da nossa fome diária de ego saudável. E com um ego ferido, nos jogamos a qualquer tipo de aparição midiática ou atitude banal, como pseudos famosos que desfrutam de uma glória que lhes convém alimentar o que é ditado por uma sociedade fútil e que utiliza da promiscuidade para eleger seus novos semideuses.

  Seja independente, ou morra na próxima atualização do feed ou na próxima festa, ou na próxima matéria. Independência está em fazer por querer, construindo a alma enquanto constrói a sua carreira.

Ah, se tudo fosse diferente... 

Devemos ir sim a uma festa no mínimo de dois em dois meses, tomar uma cerveja, mas fazer realmente de festa, de um encontro social do qual gozamos da presença dos outros, bebemos ouvimos nossas músicas e saímos prontos e descansados para uma nova semana, e não acabados e sem a mínima disposição de recomeçar o que não sabemos administrar.

 Frequentando aulas vazias que nos cansam e nos fazem perder tempo.

 Claro que as vezes nos satisfaz o ensino e por deleite estudamos.

 As vezes não descobrimos que gostamos dos nossos estudos, pois passamos por ele na pressa, no jeito mecânico que não entendemos sua usualidade. É preciso entender que estudar é uma das funções da vida, e não toda ela, e aprender a estudar enquanto se vive, de aprendizados que só é possível adquirir por meio da conversa.

Calma, muitos enfrentam o mesmo, mas existe sempre uma possibilidade de fazer diferente, seja diferente e você perceberá que há situações novas a se fazer.

Férias, recesso... Cê sabe.

 Esteja de férias, com alma, corpo e coração.

 Não sei você, mas por quantas e as nossas ferias não chegaram perto das férias de nossos amigos, que visitaram França, Cabo frio, Minas, Foz e não fomos nem na praia?

 Não se deixe frustrar, se seus planos não estão sendo aplicados. Planeje de acordo com suas possibilidades e se permita ter o tempo afastado daquilo que te é rotineiro. Se permita a encontros que não pode ir, a dormir um pouco mais, a não fazer a barba uma. Vez, a sair com sua roupa de dormir para ir no mercado ou se arrume como não pode em meio ao tempo de correria do dia a dia.

E antes de tudo, saiba que nem mesmo a França, pode substituir umas férias ao lugar mais interessante que poderia ir, ao seu encontro com você mesmo. No fundo, Cê sabe...


Escrito por Israel Bonadiman, graduando em geografia pela Universidade Federal Fluminense, em um ônibus entre Niterói e São Gonçalo, região metropolitana do Rio, em meio a conversas de whataap e blocos de notas.

Aproximadamente 12 Km/ 80 min. 




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