A Água Enquanto Elemento de Formação Sócio-Espacial da Cidade do Rio de Janeiro
O texto a seguir foi uma atividade requerida à disciplina de Hidrogeografia ao curso de Geografia da Universidade Federal Fluminense - UFF como caráter avaliatório. Texto foi produzido por Israel Bonadiman de Carvalho Silva e Yan Breno Azeredo Gomes da Silva.
Na adaptação do homem na natureza, barreiras naturais precisam ser transpostas e seus recursos aproveitados por meio da técnica. De certo, assim se deu o meio geográfico da cidade do Rio de Janeiro, com o Maciço da Tijuca e a busca da água que suprisse as necessidades evolutivas da cidade.
1 A
Cidade emergiu
1500 – 1567
Fundada
a cidade do Rio no sítio entre o morro Cara de Cão e Pão de Açúcar fundamental
para defesa contra os franceses se deparava com problemas de abastecimento de
recursos hídricos. Mem de Sá realizou a mudança da cidade para o morro do
castelo, após os franceses serem vencidos, mas o problema já existente da falta
d`água não foi solucionado com poços de água salobra ali abertos. A necessidade
de buscar recursos do Rio da Carioca que deságua na praia do Sapateiro
(Flamengo) foi sendo posta em xeque. Buscou-se então chegar ao abastecimento
por picadas onde escravos e índios buscavam água em dois braços do rio e
levavam até a cidade, não sendo suficiente e sendo um problema de defesa, pois
se o inimigo tomasse a praia do sapateiro a cidade do Rio estaria tomada, foi
ressaltada a importância de uma melhor captação d`água.
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Rio de Janeiro, 1967 |
2.1. Primeiras tentativas
1602-1608: Cogitou-se trazer as águas do
carioca até o campo de Nossa Senhora da Ajuda lançando impostos, nada foi feito.
Primeiro governo de Martim Sá.
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Distância entre o campo da Ajuda e a foz do Rio Carioca |
1658 - Agravou-se o problema na
cidade, sua população tornou-se maior, as terras utilizadas para o cultivo
agrícola tomaram o alto e médio vale do carioca, donos de terras que continham
o rio deram-se como donos impedindo o uso comum e o comprometimento da
qualidade da água por seu uso na sua extensão.
2.2 “FIAT OPUS”
1720 – 1723: Após um longo período e várias
paralisações no andamento da obra finalmente no ano de 1720 as águas no Carioca
chegam ao campo da Ajuda, onde se edificou um chafariz provisório. No ano de
1723, foi instalado um chafariz de mármore com dezesseis bocas de bronze no
largo da Carioca tornado esse ponto um local crucial para a cidade Rio de
Janeiro e seu desenvolvimento.
3- A cidade cresceu.
1763 - O Rio de Janeiro se torna a capital
da colônia vendo assim elevar-se bastante a taxa de atividades econômicas e seu
crescimento demográfico. Por isso, desta forma, as águas do rio Carioca logo se
revelaram insuficientes para atender as necessidades de seus habitantes. Foi
então que os governantes da cidade decidiram não apenas melhorar a distribuição
da água do encanamento da Carioca, como também captar águas de novos
mananciais.
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Rio, 1763 |
O rio havia se expandido e mais do
que nunca necessitava de uma relação mais satisfatória dos recursos, sendo
assim a partir de 1786 compunha o abastecimento de água do Rio:
● O Aqueduto da Carioca;
● Chafariz do Largo da Carioca -16
Bocas de bronze;
● Chafariz das Marrecas;
● Aqueduto do Papa Couve;
● Chafariz do Lagarto;
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Chafarizes e mananciais |
4 - Família Real e a mudança na relação sociedade natureza.
A chegada da família Real em 1808,
fez com que salientasse problemas já existentes na cidade pelo inchaço demográfico
de 15.000 pessoas e por uma análise mais técnica e precisa da Corte , tais
como: efêmero numero de moradias para a população em seu contingente; e área
central da cidade insalubre; abastecimento de água escasso e de má qualidade;
degradação ambiental sobre o maciço da tijuca e as margens dos rios e
nascentes, inferindo na capacidade qualidade dos recursos; Questões de saúde
pública e saneamento.
O Rio tornou-se sede da metrópole,
todas as relações se organizaram de forma diferente desde o comércio,
agricultura, estrutura urbana, utilização dos recursos naturais e serviços à
população pois como sede portuguesa a aparência e o status de colônia deveria
tomar o passado como nau e erguesse ao progresso e sofisticação. A partir daí
veremos as mudanças vigentes.
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Rio de Janeiro à chagada da família Real |
5 – Dom João VI, protetor do maciço.
1817 - Com o forte incremento da
população e de atividades econômicas desde a chegada da Família Real, não
demorou muito que a seca tenha deixado difícil o cotidiano do carioca. Havia
uma preocupação de d. João VI com o desmatamento constante oriundos das atividades
agrícolas que continuavam a assolar o maciço da Tijuca, de onde provinha a água
da cidade. Foi resolvido então, por um decreto no dia 9 de agosto de 1817
coutar (defender) toda a vegetação que rodeia a nascente do rio Carioca até a
última nascente, além de desapropriar terras próximas a rios.
5.1. Dá colônia a cidade
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Inchaço urbano próximo ao aqueduto da Carioca |
6- Novas áreas
A descentralização demográfica para
as áreas periféricas começou a ocorrer a partir de 1870. Desde a chegada da
Família real o Rio de Janeiro passou por um processo mais intensivo de inchaço
urbano, o centro da cidade abarrotou-se, as condições de saúde eram precárias,
saneamento escasso, água insuficiente. Os que menos possuíam instalavam-se ao
centro pois a oferta de emprego era renovada diariamente, assim permanecer
perto do centro lhes conferia uma certa vantagem.
Os de maior poder econômico,
avançavam as zonas periféricas como tijuca e botafogo a procura de maior
salubridade nos sítios com ofertas de água (para lavagem ou de beber, até
ambos, sendo seu valor conforme tais qualidades), lugares para agricultura e
matas para desmatamento ou uso medicinal do contato com a natureza.
Facilitou o processo de
descentralização o investimento de capital estrangeiro no transporte de carris
e pela estrada de ferro D. Pedro segundo que incentivaram a expansão, milhares
de lotes expostos a venda e estradas abertas para que os que possuíam verbas
pudessem expandir a cidade. Sendo assim a área central ficou caracterízada por
dar lugar aos pobres e assim aumentou o número das habitações coletivas.
A expansão imobiliária não somente
foi em direção dos vales, mas subiu a montanha facilitado pela instalação dos
bondes, o crescimento do bairro de Santa Teresa possui essa característica. Com
instalação da empresa Santa Teresa e Paula Matos, ligando os ramais da colina
ao centro com um plano inclinado de 743 metros de extensão.
6.1 A montanha e seu novo papel.
Pelo clima de salubridade a montanha adquiriu um novo papel, casas de saúde particulares se instalaram ali. Porém, o mais importante do que o status de cura foi o de lazer que com o melhoramento da estrada velha com alta declividade para uma mais suave possibilitando meios de transporte como carruagens, recebendo o nome de estrada nova (1886). Logo, o transporte de carris ali se instalou. A partir do crescimento industrial e demográfico o aqueduto da carioca deu lugar ao bonde, os Arcos da Lapa tomaram assim caráter de cartão postal.
7
– O inchaço urbano, a favelização, indústria e a poluição dos recursos hídricos
Durante a última década do século
XIX, o rio passou por uma crise de moradia extremamente agravada. O crescimento
demográfico atingiu taxas muito elevadas e a cidade já contava com mais de
400.000 mil habitantes apenas nas periferias urbanas. Desse modo, o ritmo de
construção de novas moradias não só acompanhou a velocidade do crescimento
populacional como também para piorar, deu-se início, no mesmo período uma
política deliberada de destruição de habitações coletivas da cidade, na qual,
servia de moradia para grande parte das pessoas.
Foi inevitável então o surgimento de
uma nova forma de habitação precária e sem controle urbanístico, conhecida hoje
como favela. Esse processo ocorreu logo após a reforma de Pereira Passos, na
qual, foram expulsos aqueles que viviam no centro da cidade. Sem ter para onde
irem, essas pessoas buscaram ocupar os morros de ocupação provisória onde se
encontravam os praças retornados da campanha de Canudos. Com a chegada da
manufatura têxtil no final do século XIX, a indústria também foi um fator que
contribuiu para este processo já que se instalaram no sopé do maciço,
possibilitando assim uma geração continua de empregos revelando esses morros
como única opção de residência próxima ao local de trabalho.
Consequentemente
com toda essa expansão urbana, foi inevitável que grande parte dos cursos de
água da cidade do Rio de Janeiro acabassem sofrendo deterioração. Com o
processo de favelização e ocupação irregular dos morros da cidade e
principalmente do maciço da Tijuca, muitos rios se tornaram uma área de depósitos
de dejetos humanos e principalmente resíduos industriais que na maioria das
vezes eram despejados sem nenhum tratamento, de maneira incorreta e sem nenhuma
preocupação ambiental.
No
Século XXI Rio de Janeiro não era mais a capital do país, porém a relação da
água e da poluição não mais ficou imantada na relação com o maciço. Aliás suas
águas não mais são de caráter fundamental para a cidade, que as capta em outras
bacias. Agora a cidade tomou outra dimensão, o Rio tem sua principal atividade
econômica com o turismo sendo o maciço e seu conjunto, desde a floresta da
Tijuca, o Corcovado e suas trilhas, principais cartões postais da cidade.
O
Maciço divide agora as zonas da cidade, Norte, Sul, leste, oeste. Suas encostas
foram utilizadas em sua grande maioria para instalação e ampliação das favelas,
pois se localizam próximas das áreas de maior oferta de trabalho.
A poluição marca o Rio, problema não resolvido até os dias atuais e agravados
pela corrupção, como no episódio da lagoa Rodrigo de Freitas e pela tentativa
de despoluição da Baía de Guanabara. Nas zonas
menos desfavorecidas, pela ausência do estado o tráfico de drogas dominou os
territórios interferindo na vida e nos direitos básicos de todos cidadãos.
Bibliografia
ABREU, Mauricio de Abreu. (Org.) Natureza e Sociedade no Rio de Janeiro. Prefeitura do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1992.
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