Campos dos Goytacazes: Uma Exposição Geral de sua Geografia Marinha e Costeira
Por Yan Breno Azeredo, geógrafo formado pela Universidade Federal Fluminense
Campos dos Goytacazes é um município inserido no
contexto do estado do Rio de Janeiro. Ele está localizado na região Norte
Fluminense e possui uma população de um pouco mais de 500.000 habitantes[1]. É o município com maior
extensão territorial do estado, com uma área de um pouco mais de 4.000 quilômetros
quadrados[2]. Sua linha de costa
apresenta uma extensão de aproximadamente 29 quilômetros com uma plataforma
continental de 102 quilômetros de amplitude (Mapa 1).
Os primeiros registros sobre a ocupação da cidade
nos mostram que tal processo ocorreu em meados do século XVII, quando a
Capitania de São Tome foi dividida e distribuída para alguns capitães
portugueses, donos de engenhos na região da Guanabara, efetivando sua ocupação.
Com a instalação dos primeiros engenhos de açúcar, o processo de urbanização
ganha força, transcorrendo a fundação da cidade em março de 1835[3]. Sua estrutura urbana se
desenvolveu as margens do rio Paraíba do Sul – região da sede municipal – onde
se apresenta uma estrutura urbana muito densa. As outras localidades do
município apresentam áreas urbanas densas e pouco densas (Mapa 2).
Campos possui algumas unidades de conservação,
tanto estaduais como municipais (Mapa 3). As duas UCs estaduais se caracterizam
como unidades de proteção integral. Parte do Parque Estadual do Desengano se
insere no município e é uma das mais antigas unidades de conservação; o Parque
Estadual da Lagoa do Açu possui uma área de mais de 8.000 hectares e foi criada
com o objetivo de proteger os remanescentes de vegetação nativa da Mata
Atlântica, como a restinga, o mangue e algumas áreas alagadas. As duas UCs
municipais se caracterizam por ser unidades de uso sustentável. A Lagoa de Cima
foi elevada a Área de Proteção Ambiental (APA) em 1992 e é um dos atrativos
para muitos turistas e campistas; em 2013, a Serra do Itaoca também foi ela
qualificada com um APA.
Segundo o Panorama de Erosão Costeira no Brasil,
a linha de costa de Campos dos Goytacazes se enquadra no regime de micromaré
com amplitude média entre 100 a 200 cm. O litoral também apresenta uma grande
extensão de praia em processo erosivo que se estende por 10 quilômetros, da
Praia de São Tome até a Praia do Viegas. Há porções do litoral que apresentam
programação da linha de costa, como por exemplo, a região do Cabo de São Tome e
da Praia da Barra do Furado.
Economicamente, Campos desde de sua fundação foi
marcada pela riqueza orientada pelo setor açucareiro. Essa conjuntura
permaneceu até meados do século XX, quando em 1940 o cenário nacional da
agroindústria açucareira muda radicalmente devido a entrada de empresas
paulistas na fabricação de equipamentos para o setor, além da escala mínima
imposta pelo Programa Nacional de Álcool (Proálcool) de produção de 200 mil
sacos de açúcar em 1967, culminando na desativação de inúmeras usinas no estado
do Rio, em especial, no município de Campos (PIQUET, GIVISIEZ & ELZIRA,
2006).
A situação começa a mudar na década de 1970,
quando se descobre petróleo na Bacia Sedimentar de Campos. Essa descoberta
inicia um novo ciclo regional, baseado direta ou indiretamente na exploração do
petróleo, abrindo perspectivas promissoras para o município (PIQUET, GIVISIEZ
& ELZIRA, 2006). Já em 1987, Campos dos Goytacazes começou a fazer parte de
um seleto grupo de municípios que passaram a receber Royalties e
participações especiais advindas das atividades de prospecção do petróleo (FERÉS,
2016).
Os investimentos petrolíferos e suas potencias
externalidades demostrou uma capacidade importante na promoção de mudanças
estruturais e institucionais no Norte Fluminense e especialmente em Campos dos
Goytacazes. Os recursos dos Royalties e as participações espaciais
recebidos pelo município, passaram a representar mais da metade de suas
receitas orçamentarias, proporcionando ser o município a receber a maior quantidade
de recursos do estado do Rio de Janeiro por um longo tempo (SILVA & HASENCLEVER,
2019).
No dia 15 de janeiro de 2022 , Campos conquistou
o direito a Royalties de operações relacionadas a embarque e desembarque,
garantia que o município ainda não possuía. A partir deste ano, Campos vai ter
acesso a recursos de Royalties devido a cidade se enquadrar na Zona de
Influencia da Instalação de Embarque e Desembarque de operações de petróleo.
Isso se deve por sua posição estratégica de proximidade e apoio operacional ao
Porto do Açu, em São João da Barra. A decisão é fruto do Tribunal Regional Federal
da 1° Região que admitiu os fundamentos técnicos apresentados pelo município,
que terá direito a acesso a receitas nas parcelas acima de 5%[4].
Por ser confrontante aos blocos de produção, ele faz
parte também da Zona Principal de produção de petróleo. Ao todo, no ano de
2017, Campos recebeu mais de trezentos milhões de reais oriundos dos Royalties
do petróleo, quarenta milhões a mais que no ano anterior, 2016. Nos últimos anos
o município vem perdendo seu lugar no topo no que diz respeito ao recebimento desses
recursos. Em janeiro de 2022, ele recebeu um pouco mais de quarenta e quatro milhões
de reais, ficando atras de Saquarema, Niterói, Macaé e Maricá, município que
atualmente recebe a maior quantia (Gráfico 1).
Fonte: Agência Nacional de Petróleo e Combustível
Por fim, o município de Campos dos Goytacazes é
de grande importancia para o contexto Norte Fluminense, todavia também, para o
estado do Rio de Janeiro. Vimos que com o declínio da economia açucareira, o município
se reinventou mediante a seus aspectos costeiros. Com a transição da cultura canavieira
e a descoberta de petróleo na Bacia de Campos um vigoroso ciclo expansivo
ativou-se, impulsionado por bilionários investimentos realizados pelas indústrias
de petróleo e gás, que mesmo perdendo a participação geral na distribuição dos Royalties,
Campos ainda permanece como um dos importante e principais municípios no que se
refere a produção de petróleo.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FÉRES, Vinícius Soares Rangel Gomes. O Circuito Inferior da Economia Urbana e as Micro Atividades no Município de Campos dos Goytacazes. Encontro Nacional de Geógrafos, São Luís, 2016
PIQUET, Rosélia; GIVISIEZ, Gustavo HN; OLIVEIRA, Elzira L. de. A Nova Centralidade de Campos dos Goytacazes: o velho e o novo no contexto regional. Revista Rio de Janeiro, v. 18, p. 19, 2006
SILVA,
J. E. M. da, & HASENCLEVER, L. (2019). Ciclo do Petróleo e
Desenvolvimento Socioeconômico no Município de Campos dos Goytacazes –
1999/2014. Desenvolvimento Em Questão, 17(46), 314–332.
https://doi.org/10.21527/2237-6453.2019.46.314-332
[1] Estimativa IBGE para o
ano de 2020.
[3] http://www.coseac.uff.br/cidades/campos_antiga.htm
[4] Noticia completa: https://www.campos.rj.gov.br/exibirNoticia.php?id_noticia=67146
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