Leia em 1 Minuto: A Cartografia de Leonardo Da Vinci


Segundo texto da série "Leia em 1 Minuto". Serie que tem como objetivo abordas assuntos diversos em textos que podem ser lidos rapidamente.

Escrito por Yan Breno Azeredo, graduando em geografia pela Universidade Federal Fluminense

Olá pessoal, como estão? Espero que estejam bem! Bem vindos ao segundo texto da série Leia em 1 Minuto. Lembro que em algum momento prometi postar um texto dessa série pelo menos uma vez ao mês, mas devido a correria da vida e ainda mais mediante esse contexto em que vivemos, não tive tempo para poder escrever. Pois bem, agora estou aqui!

Nesse momento de quarentena, tenho lido muitas coisas, principalmente referentes ao meu TCC, mas também assuntos que estimo. Dentre essas minhas leituras pessoais, está a biografia de Leonardo da Vinci, escrita pelo consagrado jornalista Walter Isaacson, autor também de outras biográficas como as de Steve Jobs, Albert Einstein e Benjamin Franklin.  Me deparei em um momento da leitura com um assunto que me chamou a atenção, principalmente pelo fato de estudar geografia. Tal assunto, é o tema deste segundo texto da série: A Cartografia de Leonardo da Vinci.

Por muito tempo, digo, desde a infância, acreditava que Leonardo se manifestava exclusivamente como pintor. Todavia, descobri mais tarde que na verdade ele era um homem, podemos dizer, de todas as coisas. Da Vinci se atarefava, além das comissões de pintura, em projetos arquitetônicos, pesquisas nas mais diversas áreas cientificas, com destaque em anatomia, geologia, hidrografia e matemática, além da criação de projetos de engenharia civil e militar. Em todas essas áreas de atuação, Leonardo conseguiu contribuir tanto para o avanço da ciência como o da arte. Entretanto, possuía uma grave deficiência no que diz respeito ao foco de trabalho. Perdia o interesse rapidamente no que estava fazendo, ou, como nos casos da pintura, procrastinava levando a loucura muitos de seus mecenas. Por consequência, os projetos não eram finalizados, assim como muitos dos estudos e manuscritos científicos mencionados anteriormente que não foram publicados, o que se ocorresse, mudaria completamente o desenvolvimento geral da ciência. Muitas das descobertas que só foram publicadas 400 e 500 anos depois da morte de Leonardo, já tinham sido “descobertas” por ele em sua maturidade. Contudo, assim como algumas de suas pinturas foram concluídas, alguns de seus projetos paralelos também foram, em especial aqueles relacionados a engenharia militar.

Leonardo da Vinci, trabalhou no início do século XVI, para o impiedoso César Bórgia, príncipe e filho do Papa Alexandre VI, conhecido também pelo seu nome Rodrigo Bórgia. Ele sempre teve anseio em trabalhar na área da engenharia militar. Um fato curioso foi que quando se mudou de Florença para Milão no final do século XV, Da Vinci enviou uma carta para Ludovico Sforza, então duque de Milão, pedindo um emprego na corte ducal. Podemos dizer que tal carta seria o primórdio do que chamamos hoje de currículo, nele, Leonardo se auto elogiava, vendendo-se como engenheiro militar capaz de inventar e construir todos os tipos de instrumentos de guerra. Era obvio que Ludovico compraria sua ideia “contratando-o”. No entanto, nunca desempenhou tal papel de engenheiro militar, algo que só viria a exercer na companhia de César Bórgia.

Basicamente Leonardo foi coagido a trabalhar para ele, principalmente com a insistência do filósofo e diplomata Nicolau Maquiavel (autor de O Príncipe, que por coincidência ou não, foi baseado nas ações de César Bórgia), amigo de Leonardo. Resumidamente, Milão fora invadida pelas forças francesas a qual tinha como general César, que já sabia da existência e dos feitos de Leonardo. Dessa maneira, a corte de Milão, como um jeito diplomático de manter relações com a coroa francesa, induziu Leonardo a prestar seus serviços.

Bom, já disse muita coisa para um texto que a princípio, deveria ser lido em um minuto, por isso vamos para o que interessa. No período de cooperação com César, Leonardo projetou a melhoria de diversas fortificações controladas pela corte francesa. Uma dessas construções ficava em uma comuna italiana, na província de Bolonha chamada de Ímola. Ali, Leonardo esteve com César e Maquiavel e produziu o que talvez tenha sido sua maior contribuição para a arte da guerra e principalmente para cartografia: um mapa detalhadíssimo da cidade! De fato, é uma verdadeira obra de arte como diz o jornalista e biografo Walter Isaacson. Além de belo e inovador, contribuiu para o uso militar já que as medidas eram reais. De jeito inimaginável para a época, a peça combina arte e ciência!

Mapa de Ímola, inicio do seculo XVI

Comparação do mapa feito por Da Vinci com uma imagem de satélite.

O mapa foi desenhado com pena e tinta, com aguadas em cor e giz preto, O Mapa de Ímola representou um avanço revolucionário para a cartografia. É possível perceber o fosso em volta da cidade fortificada em um tom de azul bem claro e os telhados das casas em cor de tijolo. Tem-se uma vista aérea exatamente de cima, algo totalmente diferente da maioria dos mapas feitos na época. Podemos dizer que seria a primeira imagem de satélite sem ter satélite? Leonardo era tão avançado em seu tempo que realizou um feito que só seria executado quase 500 anos depois.

Outro fato interessante sobre O Mapa de Ímola é que Leonardo representou os oito principais pontos cardeais por traços finos, assim como as distancias reais e incrivelmente precisas de cidades próximas. Tudo isso, foi de extrema relevância no uso militar aplicado por César em suas empreitadas. Isaacson afirma em um trecho de sua biografia, que atuando como “artista-engenheiro” para César, Leonardo desenvolveu uma nova arma militar: mapas precisos, detalhados e de fácil leitura.

Nessa mesma época, Da Vinci começou a ensaiar novas técnicas de projeção cartográfica em que muitos de seus estudos de matemática, em especial a geometria, o ajudaram na tentativa de entender e projetar o globo terrestre em um plano. Vale lembrar que nessa mesma época a igreja defendia a visão de uma terra plana. Na imagem a seguir vemos uma das folhas de seus inúmeros cadernos com suas anotações cartográficas.

Anotações cartográficas de Leonardo


Baseado em suas observações, Leonardo propôs uma nova e exótica forma de representar o globo terrestre. Nela, ele dividi a esfera em oito partes, o que consideraria a curvatura do globo na disposição dos continentes. Apoiado nesse modelo, precursor para sua época, propôs o que poderia ser um dos primeiros mapas múndi:

Mapa Mundi elaborado por Leonado da Vinci


Este estudo está atualmente na Biblioteca Real do Castelo de Windsor (Inglaterra), e mostra a capacidade notável de Da Vinci em preceder em pelo menos dois séculos, as técnicas e constatações cartográficas. Christopher W. Tyler, pesquisador da Cidade Universitária de Londres, realizou um estudo aprofundado sobre o Mapa Mundi de Da Vinci que pode ser acessando aqui.

Bom, é impressionante ver como Leonardo tinha uma capacidade enorme de compreender o funcionamento das coisas que observava, tanto em seus esforços na arte como na ciência. No caso da cartografia, é mais um ponto que confirma a genialidade do homem que Da Vinci foi. Acredito que por não ter publicado nada que produziu, não conhecemos muito bem quais foram as suas contribuições. Por isso, o intuito desse texto foi mostrar a contribuição de Leonardo em uma área do pensamento cientifico que ate então poucos sabiam que o próprio se aventurava. Como disse no inicio do texto, Leonardo era um homem de todas as coisas. Tudo chamava-o a atenção, incluindo a própria geografia e cartografia:

"Conhecer o passado e a superfície da Terra é ornar e nutrir a mente humana."

-Leonardo da Vinci

Referencias

ISAACSON, W. Leonardo da Vinci. Editora Intrínseca, 2017.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

As mudanças na Região Serrana do Espírito Santo segundo as transições dos “meios”.

Breve Exposição Sobre os Direitos Indígenas

Sombras da Vida: Uma Concepção do Lugar