Conflitos no Corredor do Jalapão: Esperança para Preservar a Biodiversidade do Cerrado

Artigo escrito por Yan Breno Azeredo Gomes da Silva e
Israel Bonadiman de Carvalho Silva

Introdução
Mediante ao processo de acumulação de capital, a apropriação e exploração do meio natural resultou em alterações no desenvolvimento do mesmo. Em meio a essa pertinência, há um interesse no que diz respeito a manutenção dos sistemas biológicos e ecológicos no meio ambiente. Com o advento meio técnico-científico-informacional, um limiar entre as relações homem e biosfera, sobretudo a partir das transformações ambientais se tornaram um fato civilizatório que adquiriu dimensões planetárias (DELÉAGE apud MUNIZ, 2009, adaptado). Dessa forma, a conservação desse ambiente e consequentemente da diversidade biológica, ou biodiversidade, tornam-se extremamente importante quando se trata da exploração dos recursos naturais.
Assim, a manutenção da biodiversidade acentuou-se a partir de uma consciência ecológica, a qual Muniz (2009) salienta, se disseminou durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada na cidade de Estocolmo em 1972. Tal consciência se intensificou quando a mesma, realizada agora na cidade do Rio de Janeiro em 1992 assinou a Convenção sobre Diversidade Biológica definindo diversidade como
“a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas” (BRASIL, 2000)
De modo a complementar esta definição, Neto (2011), salienta que a biodiversidade é a diversidade de espécies e, acima de tudo, a diversidade de genes e de ecossistemas arranjados hierarquicamente de acordo com os níveis de organização biológica a qual precisa ser preservada. Neto juntamente com Loyola (2016), afirma que a utilização de teorias, princípios e análises biogeográficas na perspectiva da conservação da biodiversidade caracteriza a  Biogeografia da Conservação. Completa dizendo que a Biogeografia da Conservação parte da sinergia entre a Biogeografia e a Biologia da Conservação. Sendo a Biogeografia a ciência que busca entender a distribuição geográfica dos seres vivos, acompanhando a ocorrência espacial e temporal sempre levando em consideração aspectos ecológicos e evolutivos dos táxons e aspectos geográficos, geológicos e climáticos das áreas. Concomitantemente a Biologia da Conservação, um conjunto multidisciplinar de ciências que tem como meta obter informações e desenvolver abordagens para a prática da preservação da biodiversidade. Segundo ele, existem duas estratégias de conservação: a conservação ex situ e a in situ; na primeira estratégia busca-se garantir que genes, espécies e ecossistemas sejam preservados fora da natureza, ou seja, em lugares específicos que não sejam os locais de origem; na segunda, a preservação ocorre em seu local de ocorrência natural. Segundo o Art. 8 da Convenção sobre Diversidade Biológica, a conservação in situ estabelece um sistema de áreas protegidas ou áreas de conservação onde medidas especiais precisem ser tomadas para conservar a biodiversidade. Dessa maneira, esses espaços naturais protegidos, baseiam-se no modelo biogeográfico de ilhas de biodiversidade, geralmente circundadas por paisagens alteradas pela ação humana predatória (FERREIRA, 2004; MARTINS, 2012). Tal teoria é aplicada não somente para ilhas oceânicas, mas também a qualquer habitat que esteja isolado por algum outro ambiente desfavorável as espécies presentes na”ilha”(TOWNSEND,
 As áreas de conservação recebem seus nomes de acordo com atributos da própria geografia  denominando a partir de formações vegetais, delimitações políticas e de bacias hidrográficas. É evidente perceber que as áreas inseridas nos  territórios geográficos, estão intrinsecamente suscetível às territorialidades, forças que disputam o controle da região de forma branda ou abrupta, agentes exteriores  em contraposição a resistências locais, de forma direta ou indireta. De forma direta com: grilagens de terra, expropriação, desmatamento, extrativismos ambiental, alteração do ciclo hidrológico e do relevo, e inclusão de novas espécies ou capturas das endêmicas. De forma indireta com: cerceamento de direitos básicos originários, influência legislativa na preservação e demarcação desses territórios, propagação da ideologia da modernização versus ambientes naturais,dominação cultural. O grupos originários possuem formas de manejo mais simbióticos aos Biomas ou já influentes na constituição de seu ecótono, que a partir dos anos favoreceu a especiação ou participando ativa no endemismo da região a ser conservada. Desta forma a compreensão de conservação a etnias é também associada à preservação ambiental, já que ambos influenciam-se no palco da cultura. Desta forma a biogeografia expande o debate da preservação aliado a formação espacial, morfológica, geológica, climática, biológica e social, observando os processos econômicos e culturais na formação das sociedades  produzindo feedbacks negativos e positivos a Biodiversidade. 
Desse modo este trabalho tem como objetivo analisar e entender como as disputas em áreas de conservação afetam a biodiversidade. Para isso, teremos como cenário o corredor do Jalapão localizado no Parque Estadual do Jalapão no estado de Tocantins região norte do Brasil. Nessa região a Delegacia Estadual de Crimes Contra o Meio Ambiente e Urbanismo (DEMA), investiga denúncias de que fazendeiros estariam degradando o ecossistema único do lugar com a caça predatória e derrubada de árvores. Todavia, nessa região há a presença de comunidade tradicionais que sobrevivem dos recursos presentes no parque que frequentemente entram em conflitos com tais fazendeiros. Dessa forma, buscaremos compreender como esses conflitos alteram a biodiversidade juntamente com a produção do espaço imediato.
Gestão Integrada entre Áreas Protegidas
No que se refere a conservação existem em escala global 34 regiões prioritárias ao redor do globo, também denominadas hotspots de biodiversidade, sendo oito delas localizadas na região Neotropical. Dentre essas oito, dois ecossistemas críticos estão presentes no Brasil: a Floresta Atlântica e o Cerrado, biomas de perda iminente de elementos únicos da biota global e de seus atributos sociais e ambientais. Dessa maneira, com o intuito de reverter esse cenário de degradação, os territórios precisam ser geridos de forma integrada e participativa sendo entendida como base para a sustentabilidade. No Brasil o Sistema Nacional de Unidades Conservação reconhece três modelos de gestão integrada e ordenamento territorial: as reservas da biosfera, os mosaicos de áreas protegidas e os corredores ecológicos, a qual a região do Jalapão está inserida.
 A Região do Jalapão
Considerada a mais diversa e a mais ameaçada savana do planeta, o Cerrado representa uma das 34 regiões globais para a conservação da biodiversidade. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2011), esse bioma, em 2008, já havia perdido em torno de 48% de sua cobertura original, mediante ao avanço da agricultura e pecuária. Por isso, o Cerrado possui as mais elevadas taxas de desmatamento dentre todas as regiões naturais do mundo, com valores médios de mais de 1.400.000 ha por ano (médias de 2001 a 2008, MMA, 2011).De acordo com Klink & Machado (2005), apesar da intensa pressão que esse bioma sofre, as ações de conservação são muito modestas, chegando a 3% da área original do Cerrado preservadas. A porção norte do Cerrado é a região que possui os maiores blocos de vegetação nativa, todavia, essa mesma região apresenta as altas taxas de desmatamento diretamente ligadas a expansão da fronteira agrícola, e justamente onde o Corredor do Jalapão se insere.
A região do Jalapão abriga o maior conjunto de áreas protegidas no Cerrado, além de ser um dos maiores blocos de vegetação nativa restante no Brasil Central. Tal região, através de alguns estudos para a seleção de áreas com prioridades para a conservação, é considerada de importância biológica extremamente alta, sendo uma área crítica e prioritária para a conservação do Cerrado e consequentemente da biodiversidade global. Desse modo, por meio dos conflitos localizados nessa região, dificulta-se a manutenção dos grandes remanescentes nativos como o conjunto de espécies endêmicas, gerando não apenas impactos locais como perda de componente da biota global (MMA & RPPJ, 1999, 2006, 2013).    

Cinco unidades de conservação de proteção integral constituem a região do Jalapão. A Estação Ecológica da Serra Geral do Tocantins, com cerca de 716 mil ha de extensão se localiza na porção sul; o Parque Estadual do Jalapão, com 158 mil ha, apresenta-se na porção central; Monumento natural Canyons e Corredeiras do Rio Sono, com 1.236 ha, também na porção central; o Parque Nacional das nascentes do Rio Parnaíba, com 729 mil ha, na porção nordeste e a Estação Ecológica do Rio Preto, com 4.500 ha, ao sudeste.
      

A Conectividade Biológica do Jalapão
Os inventários florísticos apontam a presença de pelo menos 434 espécies em 100 famílias de plantas vasculares, indicando ainda a presença de pelo menos seis prováveis novas espécies botânicas. Algumas espécies raras de plantas, com distribuição restrita (menor que 10.000km²), ocorrem na região, como por exemplo, Diplusodon trigintus e Ouratea acicularis (Giulietti et al., 2009). Inventários e estudos faunísticos detalhados sobre vertebrados, grupos de organismos sobre os quais há conhecimentos relativamente amplos sobre história natural e taxonomia, são uma das mais relevantes fontes de dados de base para interpretações de padrões gerais de diversidade biológica (RPPJ, 2013). Os estudos recentes indicam que a região do Jalapão abriga pelo menos 683 espécies de vertebrados, incluindo 111 espécies de peixes, 39 de anfíbios, 88 de répteis, 366 aves e 79 mamíferos (Nogueira et al., 2011).
Desse modo, as prioridade para a conservação da região do Jalapão parte de dois conceitos básicos: a vulnerabilidade, representada por espécies ameaçadas e a singularidade, representadas por espécies com distribuição restrita e com padrões regionalizados de ocorrência. Os dois últimos conjuntos de espécies apontam padrões de distribuição fundamentais para a conservação de padrões e processos biogeográficos, incluindo informações espaciais sobre conectividade regional. Espécies de distribuição restrita, são em geral isoladas por mecanismos de especiação alopátrica e dependem de condições ambientais localizadas, além de representarem ao mesmo tempo as espécies mais vulneráveis a impactos e as melhores indicadoras de processos históricos e espacialmente únicos de formação da biodiversidade (Purvis et al. & Eken et al., 2000, 2004).
Para definir estratégias para ampliar a conectividade ecológica entre as unidades de conservação da região do Jalapão, buscou-se identificar áreas prioritárias a partir de termos biogeográficos, representada por endemismos restritos e espécie com distribuição regionalizada, além de ameaças globais e regionais, representadas pelas espécies ameaçadas. Para isso, foram utilizados dados de dois grupos taxonômicos principais, representando os mais usuais indicadores de biodiversidade: vertebrados e plantas vasculares, gerando uma lista final de 43 espécies alvos.
A partir do mapeamento de espécies alvos e da definição de grandes padrões de conectividade regional foram definidas áreas estratégicas para a conservação da biodiversidade na região do Jalapão. Deste modo, foram elencadas quatro áreas estratégicas (Figura 12), que, somadas, abrigam 41 das 43 espécies alvos utilizadas como indicadoras de áreas críticas para a conservação regional, compondo-se pelas áreas estratégicas do Planalto da Serra Geral (PSG), Bacia do Rio  Novo (BRN), Bacia do Alto Parnaíba (BAP) e Bacia do Rio Sono (BRS).  
  Area estrategica 2013
Contexto Socioeconômico
As comunidades do Jalapão 
Além da alta biodiversidade, o cerrado é conhecido por sua alta  sócio-diversidade (Barbosa a et al. 1990, Barbosa & Schmitz 1998) 
De fato, e esta frase vem tornar-se a base de nossa análise sobre os conflitos no Corredor do Jalapão: Esperança para Preservar a Biodiversidade do Cerrado. Tendo em vista a participação da região  nos diferentes períodos da formação do espaço geográfico brasileiro, diferentes grupos étnicos e diferentes interesses de uso estiveram sobre seu solo, e junto a esses interesses antagônicos ou não a diversidade do Bioma foi sofrendo impactos podendo ser de ordem positiva ou de ordem negativa à sua biodiversidade.  
Os Xerentes
Os xerentes,  junto com os índios Xavantes formam a matriz de língua Jê. Em sua cultura a agricultura e coleta é de suma importância, tão influente que  determina a concepção de sucesso masculino, definindo-o qualitativamente segundo suas aptidões,para caça, corrida e caminhada. Quando o Homo sapiens descobriu o uso do fogo, descobriu também a possibilidade de intervenção do meio através dele, utilizando-o para caça (no cercamento de animais por diminuição de sua área de habitat, possibilitando um confinamento em determinado fragmento deste modo podendo se fazer a captura ou o descampado da vegetação queimada que lhe permitia fácil identificação visual para os mesmo fins) e para agricultura pois o fogo auxiliava na agricultura arcaica através grandes áreas incendiadas para que se pudesse selecionar determinadas espécies mais resistentes e produzir segundo seus pensamentos, maior vigor, ambas também técnicas utilizadas por xerentes. É importante salientar que a suscetibilidade a incêndios neste Bioma é de alta incidência pela relação climática e do solo, fazendo que naturalmente haja eventos repentinos de focos espontâneos de incêndio anualmente. Definido por calendários a agricultura e coleta destina-se a períodos específicos do ano, verão e inverno, suas únicas estações, maio a setembro seca (verão), respectivamente (inverno) das “chuvas” outubro a abril.   Por assim, a variabilidade de espécies da região sofre graus de influxo por estes fatores, selecionando através do tempo as espécies mais adaptadas que conciliadas com as intervenções das tribos, uma força de atuação nesta seleção é inserida. A partir dos primeiros contatos com os não indígenas, se deu em meio ao século XVII através das missões Jesuítas no intuito de ocupação do centro-oeste brasileiro, mas a intensificação deu-se no século XVIII, quando a terra no Brasil adquiriu valor ligado a exploração de ouro e iniciou-se a expropriação de Terra dos povos originários e empregou-se novas utilizações, remodelando as configurações do Cerrado e buscando a domesticação dos povos Tradicionais com várias medidas governamentais e de iniciativa privada subsequente. 
Os Grupos Quilombolas 
Ocupação entre o  Século XIX e XX, as comunidades da  Barra da Aroeira, Povoado do Prata, Boa Esperança e Carrapato, Formiga e Ambrósio, se aplicam a atividade de agricultura e  pecuária, vendendo seus excedentes para complementar a renda familiar e aplicam-se no artesanato como função de renda, umas de suas atividades principais de artesanato está o de capim dourado, envolvendo todos os processos de produção, desde o cultivo à venda. A técnica foi aprendida com os índios xerentes, e conserva do Fogo em sua escala de cultivo  na mesma intenção, controlar a qualidade da produção. Utilizado de forma controlada, tem sido acusado por muitas vezes na intenção de prejudicar tais comunidades como sendo elas as causadoras de incêndio dentro dos Parques de proteção ambientais, para que grileiros e setores ligados ao turismo possam fazer uso de suas terras. 
As comunidades, o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação do Território foi publicado em 2011 e as comunidades aguardam a regulamentarização de seu território, para manterem-se salvas e de acordo comas legislações ambientais e fundiárias, podendo assim desenvolver suas atividades.  
O Grande Capital Agropecuário
Aliada às regiões de fronteira, a agropecuária vem sempre ligada ao setor de mineração, o desenvolvimento de estruturas funcionais e os processos socioeconômicos que as  ocasionam são similares, sendo assim a expansão na região de cerrado, vista desde a década 1980 como uma fronteira à expansão urbano-industrial, tem sofrido assédios para o desenvolvimento e implementação do setor agro-mineral. O Tocantins está justamente no centro dessa região de desejo, visto que como determinado pelos governos militares e atualmente reiterado pelas estratégias econômicas setoriais  do Governo Jair Bolsonaro, o interesse no Sul amazônico o sudeste da região nordeste e o cerrado para desenvolverem o Papel na expansão dos setores supracitados. 
Como visto na Região do Matopiba de forma tão explorada por diversos autores, a microrregião de desenvolvimento tem sua égide de movimento de transformação  a partir da expropriação, grilagem de terra e mais valia da mão de obra trabalhadora. O Grande capital que se estende pelas áreas do Jalapão que busca produzir lucro no turismo através da maximização dos lucros dos recursos naturais, detém um interesse na substituição da diversidade do bioma para transformação de pastos e criação bovina e cultivo da soja, aproveitando-se dos novos incentivos de infraestrutura desenvolvidos na última década com a inserção do estado no circuito turístico de alto rendimento. Com a expansão da rede urbana sobre o cerrado, expropriar as terras de comunidades tradicionais e utilizar de sua mão de obra, produz uma maximização de lucros e desenvolvimento econômico rápido e irreversível, como no caso da agricultura de até 100 anos especulados para recuperação dos impactos à biodiversidade, e no caso e na mineração acima de 100 anos. Reiterando o problema da dependência financeira e reorganização geográfica que impõe sobre o território o fim da autonomia, ou gestão territorial própria por parte das comunidades, tornando-as dependentes da divisão regional do trabalho e produzindo por assim quebra da relação homem meio, e fragmentação de processos biogeográficos incorporados por essas comunidades e introduzindo a mecanização e uso de espécies não endêmicas desbalanceado uma teia própria alimentar, como no caso de translocação de espécies de pássaros  para proximidade dos campos de soja por uma maior disponibilidade de recursos, diminuindo a dispersão passiva e contaminando o bioma com agrotóxicos nocivos a alguns insetos locais. Em resumo um real, desequilíbrio ecológico por vezes imperceptíveis. 
Conflitos em Torno do Jalapão e do Capim Dourado
Pertencente à família das Sempre-vivas, Eriocaulaceae (Syngonanthus Nitens), Herbácea com hastes de cor dourada, verde em sua gênese que ao frutificar adquire a tonalidade dourada com diâmetro de 10 a 12 cm, 1 a 10 hastes. Colheita entre 20 de Setembro e 20 de novembro. Descreve-se e o total de 1.200 espécies em 10 gêneros, com duas estratégias: uma Compactada (ambientes abertos e secos) e outra Fragmentada (ambientes úmidos) ,respectivamente a falange e guerrilha. Se adaptaram a ambientes secos, mas o favorecimento se deu em microambientes, por cobertura vegetal, Floração de julho a agosto e smentes do fim de agosto a início de Setembro.  Área de ocorrência: Cadeia do Espinhaço (MG,BA), Chapada dos Veadeiros (GO,DF),Vale do Rio Paraná (GO, TO), Região do Jalapão (TO). Sua condição mais favorável encontra-se nas chamadas veredas campos úmidos e mata de galerias inundáveis onde a disposição da espécie pode ser encontrada.
Na formação e constituição dos Parques Ecológicos do Jalapão, limites físicos e legislativos produzem o estopim para os conflitos tensionados cada vez mais. O turismo vêm crescendo de forma algébrica, induzindo políticas de estado com incentivos cada vez maiores ao desenvolvimentos das chamadas redes urbanas, privilegiando o modal de transporte rodoviários, especulando-se construções de novas rodovias para que possa ser mais difundindo as redes hoteleiras e que se fomente novos pontos de interesses dentro do Jalapão. Pois bem, em meio a construção de um corredor Biológico a promoção da rodoviária minimizam os efeitos da preservação ambiental, ocasionando efeitos de borda e separação biogeográfica de espécies margeando o próprio corredor privilegiando apenas algumas espécies. Acredita-se que com o aumento do número de turistas acarretará um melhoramento nas comunidades ali instaladas, pois bem, ledo engano, tendo a principal atividade destes sendo o artesanato de capim dourado, tem-se um público alvo específico, classificado como turistas de nível de escolaridade alta o que permite a  produção seguir um ritmo mais brando, conforme solicitado pela:

Portaria Naturatins no 055/2004 estabeleceu, entre outras coisas, que (i) as hastes de capim-dourado só podem ser coletadas após 20 de setembro, desde que estejam maduras; (ii) no momento da colheita, as flores de capim-dourado (tecnicamente infrutescências, popularmente conhecidas como “cabecinhas”) devem ser cortadas e lançadas nos campos úmidos de colheita; (iii) apenas coletores ligados a uma associação de coletores e registrados junto ao Naturatins estão autorizados a coletar capim-dourado; (iv) proibição do comércio de capim-dourado in natura para fora do Jalapão.

Segue o intuito de preservação ambiental, deste modo a demanda de acordo com o oferta natural sustentável sem afetar a renda da população local, pois a disponibilidade financeira do turista é maior. Sendo assim, há seletividade qualitativa. O artesanato conciliado como a preservação ambiental tem seus frutos como produto palpável da sustentabilidade, podendo tornar-se um modelo característico que define a região a partir de um produto, que pode viabilizar a preservação a partir da obtenção de recursos revertido ao cultivo em áreas de proteção feito pelas comunidade obtendo para si renda. A partir do uso comum do solo, preservando os períodos de floração, resiliência das espécies por indivíduos nas áreas, dispersão de suas sementes e manejo segundo os limites de tolerância do solo e controle das formas de manejo mais aliados aos naturais que se contrapõem a uma demanda de larga escala que presume o lucro como a parte mais importante da escala, descaracterizando o produto vinculando seu terroir apenas a especificidade de seu valor monetário e não a qualidade de vida e biosustentavel que possui, promovendo a substituição de povos originários e tradicionais, mais simbióticos a escala natural para inserir uma demanda de produção massiva singular e totalmente degradante. 
A coleta precoce – antes de 20 de setembro – ocorre por dois motivos principais: (i) nas áreas em que a atividade é relativamente recente, há falta de conhecimento local sobre a biologia da planta e sobre as regras de colheita; (ii) nas regiões em que a atividade do artesanato é mais antiga, devido à competição por matéria-prima coletada em áreas de livre acesso. Colheitas precoces com o desenraizamento de mais do que 5% das plantas floridas causam diminuições significativas nas populações de capim-dourado e tornam esta atividade.

A questão do artesanato não envolve apenas a coleta do capim dourado, mas também segue a disponibilidade de fios de seda de Buriti, responsáveis para fazer a junção das hastes de capim dourado, e os buritis só possuem a disponibilidade de duas folhas anuais das quais se pode retirar as melhores sedas, ou melhor, as únicas capazes de dar o efeito desejado. Os antigos, acreditavam que estas disponibilidades se renova a cada lua nova, porém estudos apontaram que apenas umas vez por ano. 
 A seda utilizada para costurar o artesanato de capim-dourado é retirada das folhas-jovens de buriti. No Jalapão, os extrativistas colhem folhas-jovens de buritis não-reprodutivos, com altura entre quatro e dez metros. Para a colheita, os extrativistas usam os talos, ou pecíolos, das folhas secas como uma escada para atingir o centro da copa da palmeira, de onde uma folha nova emerge por vez. Buritis mais altos com tronco acima do solo são difíceis de escalar e, portanto, não são utilizados; buritis menores possuem seda curta, inadequada para a costura. O extrativismo de folhas-jovens, da forma e intensidade que tem sido praticado pelos artesãos do Jalapão, não causa danos ao crescimento e à sobrevivência do buriti (Sampaio et al. 2008).

Com os apoios governamentais a indústria do turismo na região, a pressão por aumento da produção atraia extrativistas à região e o desejo de substituição da mão de obra tradicional e suas concepções de tempo, para questões ligadas ao capital, no intuito de atender aos mercados crescentes na capital do Estado, no Sudeste, em algumas regiões do país e internacional. O conflitos pela terra se aumenta, pois a intenção de se criar modais organizados, com pecuaristas e mineradores tornando-se donos de hotéis e de redes de artesanato, dominariam assim o uso de terra da região,opondo-se veementemente a dinâmica do corredor Biológico e de sua sustentabilidade tácita. A reexistência na região está demarcada pela preservação de práticas de cultivo controlada e de forma a se respeitar os períodos naturais e  se inserir mais informação a estas, como na educação promovida ( nome do grupo que desenvolveu o trabalho do fogo) tendo como exemplo, a prática da queimada controlada que antes acreditava-se ter que ser em um período bienal, foi-se observado que intervalos de até 5 anos, não interfere nos resultados obtidos. A redes de hoteis que preservam e permite a venda com lucros revertidos a comunidade também é uma reforma de resistência, tal como o respeito e aceitação das comunidades por informações legislativas e de campo científico produzindo os limites dos Parques e o manejo que lhes é permitido por legislação. 

Considerações Finais
O artesanato  do capim dourado proporciona termos de identidade para a região, renda e possibilidade de desenvolvimento, especialmente para a comunidade quilombola de mumbuca.  A criação do Parque estadual em conflito com a área de proteção do quilomb com atuação de outras forças para extração do vegetal, com o distanciamento do sujeito que o produz e os que comercializam causando um entrave econômico. A falta de planejamento governamental que envolve e proporciona aos atores da região um uso comum das potencialidades, é um estopim para o avanço das forças maiores capitalistas que buscam inserir cada vez mais a agropecuária na região cercando as zonas de proteção, tal como um modal turístico mais intenso que desprivilegia a conservação natural e exclui os jalapoeiros de sua participação e captação econômica para um desenvolvimento sustentável, evitando que não sejam o que deveriam ser,  instrumento de desenvolvimento sustentável , combinando a dimensão econômica , sociais e ambientais com vistas a exploração e recursos naturais, respeitando as áreas de preservação e os limites sobrepostos entre zonas ambientais e quilombolas, evitando que as mudanças socioeconômicas se sobreponham e refaça os fatores identitários da região.   
A educação sustentável na região é um importante aliado para a permanência identitária da região para as próximas gerações, fazendo com que estas possam contribuir para tal. O jalapão em si, possui uma riqueza para interdisciplinaridade educacional gigantesca, vide os artigos da revisão bibliográfica que abordando diferentes assuntos, nas diferentes áreas, em especial no ensino de geografia pode-se abordar os aspectos humanos da região, sua corografia, processos extra-regionais, fluxo de capital, avanço da fronteira urbana entre outros processos que o sertão brasileiro dado como fronteira ao capital passou após os períodos da década de 1970 e contrastar com algumas áreas ainda sem uso, outras recuperadas por preservação e alguns processos sobre  a população local que acontece atualmente, fazendo com que o aluno em locus possa entender e compreender o modelo de desenvolvimento brasileiro em contraposição ao novo modelo sustentável que dá singularidade ao Jalapão, na junção dos seus 17 municípios em uma ideia central de corredor ecológico que une todos em uma só área, um processo bem definido de estratégia geopolítica de território.
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