Sobre território, territorialidade e uma nova concepção pra tal.
O texto a seguir foi uma atividade
requerida à disciplina de Geografia Política ao curso de Geografia da
Universidade Federal Fluminense - UFF como caráter avaliatório. Texto foi
produzido por Yan Breno Azeredo Gomes da Silva.
É
necessário antes de tudo informar, assim como RAFFESTIN (1993) fez, que o
espaço e território são termos dissemelhantes. O espaço é uma combinação de
sistemas de ações e objetos naturais ou artificiais intencionadas produzidos
por uma sociedade. Essa produção do espaço pode se realizar a partir de três
praticas sócias distintas: a econômica, a politica e a cultural. Quando falamos
de território estamos ligando os holofotes diretamente às práticas políticas no
espaço. Existe então, nesse âmbito político uma relação de dominação, ser
proprietário, ter interesses no espaço. Essa relação de poder para com o espaço
acaba produzindo um produto, o território.
Mas
de onde vem exatamente o termo território? MORAES (1989) nos diz que a
expressão território foi primariamente usada em estudos relacionados a Botânica
e a Zoologia no final no século XVIII e era atribuído ao domínio de certas
espécies de plantas e animais a determinado espaço. Pois bem, por intermédio
dos estudos que comparavam o comportamento dos animais, a Etologia, tal
conceito de território se integrou nas análises geográficas dos homens.
É
interessante perceber que tal conceito preencheu um lugar de destaque nos
processos de investigações geográficas, principalmente nos trabalhos de Friedrich
Ratzel, na qual o termo território é a central proposta desenvolvida. Para ele,
o território se define pela simples propriedade, ou seja, uma parcela do espaço
identificada pela posse. Continua dizendo que o território é uma área que
alguém possui, o espaço qualificado por uma comunidade ou ate mesmo por um
Estado. O território então, na concepção de Ratzel, está ligado preferivelmente
ao poder exclusivo do Estado, o espaço nacional, a geopolítica.
MORAES
(1989) assinala também que o conceito de território está ligado a sua gênese,
dando como exemplo a teorização de Karl Marx. Marx acredita que o território se
define não só pelo seu controle e domínio, mas sim pelo modo como o espaço é
usado, é apropriado e não uma propriedade. Nos é citado o exemplo, na qual, uma
região é considerada território de caça pois ali é exercida a atividade da
caça. Podemos dizer então que é o trabalho social que qualifica o espaço em
território. MILTON (1996, 1999) nos revela também que o território tem uma
noção dinâmica, ou seja, ele é usado. O território usado é a relação entre
objetos e ações, o espaço habitado. É uma construção social.
Uma
construção social, baseada nas relações de poder. É assim que SOUZA (1995)
busca exprimir o conceito de território. Ele nos apresenta esse conceito
dizendo que o espaço definido e delimitado através das relações de poder é um
território. Segundo SOUZA (1995), para entender o território é preciso
discernir quem domina ou influencia e como faz isso no espaço e
consequentemente no território. O território é um campo de forças com uma rede
de relações sociais que define um limite na diferença dos que estão “dentro” e
os que estão “fora” sempre podendo ser periódicos ou permanentes. Ele nos
mostra como exemplo, os territórios das prostitutas ou das gangues de rua. São
territórios “flutuantes” ou “moveis” e com limites instáveis, ou seja, existe
uma superposição. Há na maioria das vezes uma sobreposição de inúmeros
territórios e com diversas formas de limites que não são concomitantes. Para
ele, o conceito de território precisa abranger mais que o do Estado-Nação, é
necessário abarcar por antecedência o território a partir das relações
microfísicas.
Reforçando
então, o território não é o mesmo que o espaço! RAFFESTIN (1993) nos ajuda
nesse sentido dizendo que é primordial compreender que o espaço é anterior ao
território. É uma formação a partir do espaço, sempre conduzida por um ator que
detém o poder para utilizar estratégias para afetar, influenciar e controlar pessoas,
recursos e relações. O ator, como ressalta RAFFESTIN (1993), “territorializa” o
espaço.
Dessa
maneira, conseguimos citar SACK (1986) e sua contribuição para com o termo
território e seu processo de territorialidade. Primeiramente SACK (1986), propõe
que o processo de territorialidade humana se difere completamente daquela
disseminada pelos biólogos, na qual o instinto agressivo natural se relaciona
com o comportamento animal. Para ele, a territorialidade pode ser melhor
entendida como uma estratégia realizada por um indivíduo ou grupo no
espaço visando atingir, influenciar e controlar pessoas, fenômenos e
relacionamentos, com a delimitação e certificação do controle. Este espaço é
chamado de território. Acrescentando, SACK (1986) remete que um espaço
pode ser utilizado como território em determinado momento e em outro não. Para
que um espaço possa a ser classificado como tal, é preciso que o individuo ou
grupo precisem de constantes esforços para estabelece-los e mantê-los. Ela
envolve uma forma de comunicação pelo uso de uma fronteira, afetando o
comportamento pelo controle de acesso a uma área e os objetos e ações dentro
dela, ou àqueles que estão fora através da repressão daqueles que estão dentro.
O
território é então, um produto da construção social baseada nas relações de
poder com o espaço, na qual, um indivíduo ou grupo a partir de uma poderosa
estratégia, a territorialidade, controla, afeta e influencia pessoas recursos e
conhecimento. É necessário para que esse espaço possa ser classificado como
território, o ator dominador consiga assegurar de diversas formas sua
legitimidade, seja pelo poder brando ou pelo poder duro. Ou seja, para que um
território possa ser considerado como tal, além de ser estabelecido é preciso
mantê-lo vivo. Todavia, não devemos esquecer que a territorialização é um
processo sempre aberto e quase sempre nunca constante.
Acredito
que o território numa concepção geográfica contemporânea deveria e deve sempre
estar vinculada de maneira prioritária as relações de poder numa meso e
microescala. É claro que não devemos cobrir nossos olhos à noção de território
do Estado-Nação. É nessa macroescala que vemos com maior clareza todas as
dinâmicas do território, e baseado nelas percebermos como tudo funciona na
percepção do que está a nossa proximidade.
Quando
digo a nossa proximidade, refiro-me aos territórios que nos controlam e
principalmente aqueles que controlamos. É fácil visualizarmos os territórios
que nos controlam, como o próprio Estado, a cidade onde vivemos, o bairro onde
moramos, as escolas e faculdades onde estudamos. Todavia, enxergarmos aqueles que controlamos
é um pouco mais difícil. Acredito que
cada pessoa seja um território, e que cada uma delas controla o seu de alguma
maneira, território esse que podemos chamar de o espaço e consequentemente o
território vivido.
Sobre
toda as superposições e sobreposições dos diversos tipos de territórios, os
territórios vividos e seus limites estão sempre em constantes mudanças. Por
exemplo, o território vivido de um ator em um determinado momento é sua casa, o
caminho que faz até o trabalho, o seu trabalho, o caminho que faz até sua
faculdade, a sua faculdade e o caminho de volta a sua casa. Toda essa rede de
fluxos, pontos e nós podem ser considerados o território vivido, e como todo
território, seus limites nunca não os mesmos. Esse território controlado por um
ator com certeza não foi o mesmo sempre e nem será o mesmo no futuro.
Então
na concepção geográfica contemporânea do território, o contrate e as
divergências entre as relações de poder existentes devem continuar a serem
investigadas. Todavia, deve ser levando em consideração agora a relação do
território vivido flutuante e não constante com os territórios gerais na qual
tal ator está inserido. Os territórios gerais influenciam os limites dos
territórios vividos e isso deve ser examinado.
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