A Espacialização da Industria Brasileira




O texto a seguir foi uma atividade requerida à disciplina de Geografia da Indutria ao curso de Geografia da Universidade Federal Fluminense - UFF como caráter avaliatório. Texto foi produzido por Yan Breno Azeredo Gomes da Silva.

A relação sociedade-espaço ou sociedade-natureza se dá de inúmeras formas. Formas essas, possibilitam que tal sociedade produza (modifique) o espaço para que concomitantemente o espaço possa produzir a sociedade. Verificamos essas modificações no âmbito político, social, econômico e cultural, na qual numa sociedade capitalista enxergamos em sua base principal, a indústria. Percebemos então a partir disso que a indústria remodela o espaço dividindo territorialmente o trabalho e, que toda a produção e suas trocas integram a estruturam as economias modernas.

No Brasil, a alteração do espaço se desenvolveu a partir da florescente e moderna sociedade industrial capitalista. O trabalho dividido inúmeras vezes territorialmente possibilitou que as consequências tanto sociais, econômicas e socioambientais configurassem uma nova relação sociedade-espaço.  A indústria moderna no Brasil começou a dar seus primeiros passos no início da década de 1880, na qual, determinados períodos ao longo do tempo mostraram diferentes arranjos espaciais.

A primeira fase industrial foi no período que corresponde ao ano de 1880 e que se prolonga até 1920. Nesse período vemos como principal característica uma indústria dispersiva e indiferenciada que se desenvolveu a partir das transformações decorrentes da época como a abolição da escravidão e o estabelecimento da republica no pais. As indústrias que compõem esse cenário, sobretudo, a luz das transformações citadas, são expressivamente a indústria doméstica e a de beneficiamento. Tudo isso levou a manifestar-se um mercado interno de bens de consumo leve, na qual tais industrias se mostraram despreparadas e insuficiente. Este quadro se diferencia do que entendemos hoje da presença industrial no Nordeste.

Em nossa segunda fase industrial, começamos a ver a divisão regional da indústria e a sua concentração. Esse período se dá nos anos entre 1920 e 1950, na qual podemos ver um crescimento no número de indústrias e de suas relações, além do início de uma crescente concentração somatória da indústria no Sudeste do país. A diferenciação quantitativa mostra que grande parte da indústria está concentrada no Sudeste, mas em contrapartida, a indiferenciação qualitativa, mostra como a estrutura dos parques industriais ainda são vigorosamente indiferenciadas entre as outras regiões do país, essas são as características da configuração do espaço que se mostra neste período.  Foi a partir desse estagio que a indústria moderna se alastra, diversifica-se e se consolida no Brasil.

A fase da concentração, polarização e diferenciação da região Sudeste, caracteriza a terceira fase. Esse período se inicia na década de 1950 e se estende até o ano de 1970, onde se verifica o desenvolvimento do setor industrial de bens de capital, bens de consumo durável, bens intermediários, de infraestrutura e energia. A nova composição do espaço industrial está diretamente ligada ao surgimento desses novos setores, onde tais industrias instalarem-se em São Paulo beneficiando-se da concentração urbana e industrial presentes ali. Essa nova organização espacial possibilitou a criação de uma diferenciação territorial como também estrutural e qualitativa da indústria levando o espaço a moldar-se em regiões polarizadas. As regiões Nordeste e Sul se tornaram menos industriais e mais voltadas a agricultura, ao passo que a região Sudeste concentra mais indústria e diminui o ramo agrário, no Centro-Oeste e Norte a expansão agropastoril é o setor mais marcante.

A diferenciação-concentração industrial juntamente com uma deseconomia de escala atingiu um estágio tão intolerável à própria logica industrial que a partir da década de 1970 inicia-se a quarta fase, a fase da restruturação industrial que se estende até o início do século XXI. Com a criação das PNDs o governo militar tentou reverter esse quadro iniciando três planos visando principalmente a reestruturação e redistribuição da altíssima concentração da indústria presente na metrópole paulista, repartindo e estruturando no espaço brasileiro.

A partir de todo esse processo de produção industrial do espaço conseguimos perceber uma redivisão e uma nova regionalização do trabalho e de suas interações. A estrutura do espaço brasileiro após a década de 1970 encontra-se configurada de seguinte maneira:

·      A Região do Polígono Industrial – redistribuição da indústria metropolitana para o interior do estado de São Paulo alocando-se posteriormente em cidades de pequeno e médio porte em estados da região Sul e Sudeste como em Belo Horizonte e Porto Alegre.

·      A Região do Complexo Agroindustrial – deslocação e migração da agroindústria para o planalto central gerando no cerrado a segunda região da divisão do trabalho. Dissociação do termo latifúndio-minifúndio e da indústria de beneficiamento.

·      A Região dos Polos Mineroindustriais, da Agroindústria Irrigada e da Industria de não duráveis – formação da nova indústria no Nordeste de bens de consumo não duráveis advinda do Centro-Sul, alguns polos mineradores levados pela PND II e a agroindústria de fruticultura irrigada alterando o espaço para distante das atividades regionais antigas.

·       A Região da Fronteira Biotecnológica – uma abundância de empresas agropecuárias espalhasse pela Amazônia, todas elas relacionadas a políticas de incentivo fiscal.

Na quinta fase que compreende o período de 2000 até 2010 conseguimos visualizar uma desconcentração industrial continua. Desconcentração essa, mais intensa na interação intra-regional, dentro de um estado, que inter-regional, entre estados. As indústrias que passaram por esse processo, procuraram localizar-se em locais geograficamente próximo uma das outras, gerando cooperações horizontais com momentos de produção iguais e cooperações verticais, quando a produção de uma indústria é a mateira prima para outra indústria.

Com todo esse procedimento foram surgindo alguns modelos de aglomerações. O modelo puro por exemplo, não predispõe de nenhum tipo de cooperação entre os agentes econômicos, a proximidade geográfica é a única razão comum entre as industriais que possibilitam obter vantagens do agrupamento. O modelo industrial é formado por indústrias que compartilham os mesmos interesses de comercio e buscam minimizar os gastos de produção, geralmente são grupos fechados. Já no modelo da rede social é derivado das relações de afinidade e confiança entre agentes produtores, existe ali uma interação interpessoais que superam as fronteiras espaço industriais.

É interessante observar como o Estado, nessa nova organização no espaço industrial, reorganizou o capitalismo brasileiro. O BNDES, criado no segundo governo Vargas, favoreceu o desenvolvimento das indústrias estatais e é o principal agente fortalecedor dessa reorientação atualmente já que durante o governo neoliberal de Cardoso o processo de privatização colaborou para o surgimento de uma nova elite. É possível dizer que o BNDES é o encarregado com mais de 60% dos financiamentos em empresas privadas de longo prazo aqui no Brasil e que tais providencias tiveram a capacidade de remodelar todo um setor produtivo, promovendo diversas fusões e criações de imensas empresas de caráter monopólico e oligopólio.

Intervenções essas, permitiram que uma nova e legitima reorganização do capitalismo brasileiro surgisse.  O principal intuito era evitar falências e impossibilitar que grandes empresas pudessem ser adquiridas por multinacionais estrangeiras, ou seja, o Estado intervém nos agentes e grupos econômicos para que eles possam em um longo prazo, competir com outras grandes empresas internacionais e com essa nova lógica da ordem econômica mundial.

Conseguimos perceber então que em uma sociedade capitalista, a partir da divisão territorial do trabalho, a indústria modificou e ainda modifica o espaço constantemente. No Brasil essa lógica pode ser vista e analisada ao longo de sua história industrial, na qual o espaço se molda de inúmeras formas, entendendo também como o Estado influencia na economia e consequentemente na organização do capitalismo visando uma lógica mundial.

Bibliografia 

MOREIRA, R. A nova divisão territorial do trabalho e as tendências de configuração do espaço brasileiro.

AGLOMERAÇÕES INDUSTRIAIS RELEVANTES DO BRASIL, Ednaldo Moreno Góis Sobrinho e Carlos Roberto Azzoni, TD Nereus 07-2014 São Paulo 2014.

ZIBECHI, Raúl. Brasil Potencia. A reorganização do capitalismo brasileiro. Cap. V - a  reorganização em marcha, pp. 160-181, Rio de Janeiro, Ed. Consequência, 2012.

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