RELATORIO SOBRE O TRABALHO DE CAMPO REALIZADO NA BACIA DO RIO SÃO JOÃO, RIO DE JANEIRO


O texto a seguir foi uma atividade requerida à disciplina de Hidrogeografia ao curso de Geografia da Universidade Federal Fluminense - UFF como caráter avaliatório. Texto foi produzido por Diego Barbalho de Oliveira, Douglas Campos Pimentel, Eugenio Tuorto de Moraes, Israel Bonadiman de Carvalho Silva e Yan Breno Azeredo Gomes da Silva.

Introdução

Bacia hidrográfica, segundo TUCCI (1997), é uma área de captação natural da água de precipitação que faz convergir o escoamento para um único ponto de saída. Compõe-se de um conjunto de superfícies vertentes e de uma rede de drenagem formada por cursos de água que confluem até resultar em um leito único no seu exutório. Já segundo BARRELLA (2001), bacia hidrográfica é um conjunto de terras drenadas por um rio e seus afluentes, formada nas regiões mais altas do relevo por divisores de água, onde as águas das chuvas, ou escoam superficialmente formando os riachos e rios, ou infiltram no solo para formação de nascentes e do lençol freático.
O trabalho de campo foi realizado em vários pontos dentro da Bacia do Rio São João que é protegida pela APA da bacia do Rio São João e foi criada para proteger os recursos hídricos da região. Essa APA também é chamada de Mico Leão Dourado, pois esse animal foi escolhido como espécie bandeira, que dá identidade à mata atlântica. Ele constitui, assim, um símbolo, que ajuda a aumentar a cobertura da APA e a conectar fragmentos de mata.



Figura 1 Pontos de Parada do Trabalho de Campo

 A microrregião da Bacia do Rio São João possui uma área de 1.629,8 
km² e sua população foi estimada em 2006 pelo IBGE em 149.424 habitantes. A bacia abrange os municípios de Araruama, Cabo Frio, Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu, Rio Bonito, Rio das Ostras e Silva Jardim, porém 57% da sua área se localiza dentro de Silva Jardim. Apresenta a maior parte de seu relevo Montanhoso (área mais preservada – 70% com florestas) e Plano (área menos preservada – 14% com florestas), com algumas porções de morros, morrotes e colinas. A bacia apresenta zoneamentos como a zona de preservação dos recursos naturais (área que abrange principalmente a zona montanhosa da bacia, além do morro de São João.), a zona de conservação dos recursos naturais (com baixa intervenção humana e expressivo grau de conectividade, abrangendo relevos mais baixos), a zona de recuperação, a zona de proteção do reservatório de Juturnaíba, entre outras. A principal zona é a de uso sustentável, onde há a maior parte da ocupação e da agropecuária, que vêm sendo a razão da profunda alteração da bacia São João desde o século passado.

O Alto curso (do rio Aldeia Velha (S. João)

Figura 2 - Rio Aldeia Velha - Alto Curso

Herança geológica condicionando a rede de drenagem

A orientação da drenagem dos rios de boa parte do Sudeste segue lineamentos estruturais originados pelo ciclo brasiliano (ocorrido há aproximadamente 650 milhões de anos), formando cadeias montanhosas e falhas (as quais os rios tendem a ocupar). O rio Aldeia Velha, inclusive, está encaixado nesse cinturão orogenético, cujas falhas foram reativadas pela separação do Godwana há 150 milhões de anos atrás. As rochas do Rio Aldeia Velha datam de 2 bilhões de anos atrás. Elas não foram muito perturbadas pela colisão Brasil-África, pois devem ter sido parte do antigo cráton africano (rochas de maior resistência.)

O leito do Rio Aldeia Velha, em seu alto curso, é rochoso. Em resumo, um canal rochoso ou misto é aquele em que a cobertura aluvial não é contínua no tempo e no espaço e, onde existente, é pouco espessa e mobilizável, de modo que a incisão no substrato rochoso é ativa (Howard et al., 1994; Whipple et al. 2000a). A turbulência e a competência (relacionada ao tamanho dos sedimentos) do canal são muito grandes para deixar acumular muitos sedimentos finos. Além disso, também devido à alta competência do rio em seu alto curso, há uma maior taxa de erosão do talvegue, predominando sobre a deposição, fazendo com que ele eroda até chegar no embasamento rochoso. No entanto, nesse nível do rio, a capacidade (aporte de sedimento que um rio consegue transportar) é baixa, somente a competência é alta, conseguindo transportar calhaus, seixos e até matacões, em períodos de cheia.

O médio curso da bacia do Rio São João

Dentro da Bacia do Rio São João, mais especificamente no médio curso da bacia, encontra-se a Represa de Juturnaiba ou como também é conhecida, Lagoa de Juturnaiba. A represa está localizada entre os municípios de Silva Jardim e Araruama, sendo que cerca de aproximadamente 70% da lagoa pertence ao município de Silva Jardim. Atualmente possui uma área de 31km² com uma profundidade máxima de 11 metros, porém, antes dos processos de alterações na lagoa, seu corpo d’água era de 4 metros de profundidade e com uma área de 6km². Ela é responsável pelo abastecimento de agua da Região dos Lagos, possuindo duas ETAs (Estação de Tratamento de Água): ETA Prolagos e ETA Juturnaiba. 

As alterações na Bacia

O início das alterações na bacia ocorreu em meados da década de 1950, com o início das obras de retificação do rio São João (Medeiros 1987). Um dos objetivos dessa modificação foi aumentar o tempo de escoamento, possibilitando um maior controle do fluxo de água e sanear a planície de inundação já que constantemente, com a decorrência de enchentes, casos de febre amarela ocorriam. Uma outra finalidade, foi fortalecer grandemente as atividades econômicas na região com áreas de cultivo e pecuária, além de facilitar a construção da rodovia federal BR-101. Foi então, que na década de 1970 iniciou-se a construção da represa de Juturnaiba, na qual foram retomadas as obras de retificação com uma maior grandiosidade. Em consequência a essas alterações na bacia, a extensão do canal do rio São João diminuiu cerca de 52% em comparação a sua origem (Cunha 1995). 
 
Figura 3 - Lagoa/Represa de Juturnaiba

A sub-bacia do rio Bananeiras

Durante o trabalho de campo uma de nossas paradas foi na margem do rio Bananeiras. Foi ali, dentro da sub-bacia, que observamos algumas feições geomorfológicas oriundas de um processo longo de deposição de sedimentos e de erosão. Uma das formas evidentes que conseguíamos visualizar foram os terraços fluviais. Originários do período entre Holoceno e Pleistoceno, os terraços fluviais foram criados pela deposição dos sedimentos carregados pelo rio e que posteriormente, e ao longo de vários anos, foram sendo entalhados pelo rio formando alguns degraus de terraços. Outra feição visualizada, foi a planície de inundação do rio. Conseguimos identificar ali inúmeros depósitos de seixos oriundos de antigas inundações, principalmente na margem convexa do rio.  Essa margem convexa faz parte de uma outra forma geomorfológica encontrada no local, os meandros. Como estávamos no baixo curso do rio, esse tipo de feição é comum em planícies de inundação onde o curso segue em forma de curvas e laços (Grotzinger e Jordan 2013). Esse aspecto foi interessante, pois conseguimos visualizar meandros abandonados em terraços fluviais antigos, o que acabou proporcionado uma visão do tempo geológico do local.

Figura 4 - Sub-bacia do rio Bananeiras e suas feições
Resultados da atividade pratica
Realizamos um exercício de mensuração da vazão, profundidade, área e velocidade média do rio Bananeiras. Os resultados estão a seguir:        

O baixo curso do rio São João

Em seu baixo curso o rio São João como se é característico de um baixo curso fluvial, apresenta uma velocidade baixa, sua vazão é determinada pela liberação das águas da represa de Juturnaíba, onde por um alongamento até a foz de uma planície com baixo desnível, o entalhamento produziu caminhos meândricos, que para aumentarem a velocidade e evitarem inundações na planície tal como melhorar a vazão da represa, transformar seu canal de forma retilínea foi preciso. Seu leito é de característica arenosa, e com uma diminuição do transporte de sedimentos a partir do aumento da lagoa e construção da barragem, que diminuiu processos geomorfológicos influenciando na capacidade e competência .No baixo curso a competência de um rio é menor que sua capacidade, por conta da velocidade possuir uma menor força de arrasto sobre os detritos transportando partículas menores, aumentando assim a capacidade por aumenta a quantidade de material transportado e sendo mais seletivo. Mas as obras influenciaram a capacidade que transporta menos material particulado, que produz um avanço do mar sobre a costa de alta intensidade para compensar tal perda.
Entre o morro São João e a lagoa de Juturnaíba, a retificação foi realizada fazendo com que meandros fossem abandonados, e diminuindo o embrejamento que se deva nos meandros. Percebesse evidentemente pelas imagens de satélite, quão sinuoso era o curso destas águas fluviais. Na imagem a linha amarela é exatamente o atual curso do São João ao sair da lagoa, e linha vermelha circunda a área por onde o rio seguia seu curso.

Figura 5 - Linha amarela: Atual curso do rio São João/ Linha Vermelha Área onde o rio seguia

Mesmo com a modificação no curso do rio, os meandros entre a curva para o segundo período retilíneo e o morro São João, o rio possui um curso misto de formas: A retificação não superou suficientemente os meandros, que no final do seu curso antes de atingir o estuário, possui em suas margens uma vegetação mais resistente e de transição do ambiente de águas mais salinas para as menos salinas, os mangues. O Estuário é a foz deste nosso rio que faz a transição deste ambiente mais salobro até o mais salinizado (águas oceânicas) com uma geomorfologia, peculiar entre uma confluência na paisagem de: rio, mangue e praia. O estuário do São João é utilizado na produção de ostras, e sua influência determina a vazão do rio que em seu baixo curso é influenciado pela maré.
A APA da Bacia do rio São João

A Área de Proteção Ambiental da Bacia do rio São João é uma unidade de conservação de uso sustentável, com cerca de 150 373,03 hectares (1 503 7 km2). Abrange ecossistemas da Mata Atlântica, como a "mata de baixada", mangues e a restinga. Tem como objetivo normatizar o uso da terra na área de ocorrência do mico-leão-dourado. Abrange toda a bacia do rio São João, exceto áreas urbanas e a Reserva Biológica Poço das Antas e Reserva Biológica União, que são áreas de proteção integral.

Unidades de conservação:

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) é um conjunto de normas e procedimentos oficiais que possibilitam às esferas governamentais federal, estadual e municipal, bem como à iniciativa privada, criar, implementar e gerir no país as unidades de conservação (que são as representantes no Brasil do que internacionalmente é conhecido como área protegida), sistematizando assim a conservação da natureza no Brasil
Unidade de Conservação (UC) é a denominação utilizada no SNUC para o que, internacionalmente, se conhece como áreas protegidas. Formalmente, são espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção da lei. As unidades de conservação são o principal instrumento do SNUC para a preservação a longo prazo da diversidade biológica.
   O SNUC fornece mecanismos legais para a criação e a gestão de UC nas três esferas de governo e também pela iniciativa privada, possibilitando assim o desenvolvimento de estratégias conjuntas para as áreas naturais a serem preservadas. A participação da sociedade na gestão das UC também é regulamentada pelo sistema, potencializando assim a relação entre o Estado, os cidadãos e o meio ambiente. As UC da esfera federal do governo são administradas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
  O SNUC prevê 12 (doze) categorias complementares de unidades de conservação, organizando-as de acordo com seus objetivos de manejo e tipos de uso em dois grandes grupos: Unidades de Proteção Integral que tem como objetivo básico a preservação da natureza, sendo admitido o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos na Lei do SNUC. As Unidades de Uso Sustentável que visam compatibilizar a conservação da natureza com o uso direto de parcela dos seus recursos naturais, ou seja, é aquele que permite a exploração do ambiente, porém mantendo a biodiversidade do local e os seus recursos renováveis.
   Um dos papeis fundamentais da UC, para além da proteção da fauna e da flora, é o da proteção do bem mais precioso para o ser humano, a água. A existência de UCs dentro e no entorno das cidades ajudaria na estabilização do regime de precipitação de chuvas e reteria água no subsolo e aquíferos. O desmatamento e impermeabilização do solo fazem com que a água da chuva chegue mais rápido aos cursos d’agua e ao mar, além de alterar o regime de precipitação.
   Esses fatores influenciam no clima, provocando períodos de estiagem, com escassez de água e crise de abastecimento, sendo que, imediatamente depois, vem o período de chuvas, acarretando alagamentos a falsa ideia de abundancia do recurso.
  As UCs favorecem a recarga de água nos reservatórios. Em áreas desflorestadas e asfaltadas, a água que cai no chão impermeabilizados sem vegetação nativa ou com pasto, corre muito rápido para os corpos hídricos, escorre e vai embora, em direção a alguma bacia hidrográfica e segue para o mar, ou pode cair num reservatório, que tem superfície muito grande e onde muita água se perde por evaporação. Num ambiente natural, o quadro é outro. A água cai nas folhas, há a colaboração do sombreamento, criando um ambiente no qual a água penetra muito mais lentamente no solo e no corpo hídrico, infiltrando mais e fazendo a recarga de mananciais e do sistema superficial, o que garante sua provisão ao longo do tempo. Nesta situação mais favorável, quando acaba o regime de chuvas ainda existe água no subsolo, vertendo nas nascentes e chegando aos cursos d’agua.
    As UCs são espaços especialmente protegidos e a principal estratégia de conservação da biodiversidade, quando delimitada, é usada como fonte e reserva de recurso natural, além de preservar a paisagem. De forma planejada, uma UC garante a conservação da biodiversidade, estoca recurso natural para se fazer manejo sustentável de longo prazo, sob vários graus de restrições do acesso aos recursos naturais ali existentes.
Figura 6 - UC's da Bacia do Rio São João

Conclusão e Síntese

O trabalho de campo foi conduzido dentro e em diferentes pontos na Bacia hidrográfica do Rio São João. Está Bacia está localizada no Estado do Rio de Janeiro e, com seus 1629,8 km², passa por alguns municípios, entre eles Cabo frio, Araruama, Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu, Rio Bonito, Rio das Ostras e predominantemente Silva Jardim. Esta, protegida pela APA do mico leão dourado e conservada pelas UC’s criadas pela mesma.
No alto curso, seu leito é rochoso, a competência e a turbulência são altas e a capacidade baixa, fazendo com que o rio consiga transportar seixos de grande granulometria e até matacões em períodos de cheia. Mais abaixo, no médio curso da bacia temos a represa de Juturnaíba com 31 km², nos municípios de Silva Jardim e Araruama que, com as ETAs de Juturnaíba e Prolagos, é responsável pelo abastecimento de água da Região dos Lagos.
No seu baixo curso o rio apresenta baixa velocidade, seu leito é arenoso, a competência é menor que sua capacidade, tendo em vista a velocidade que, artificialmente foi alterada. No seu estuário temos o encontro, percebido pelo olhar na vegetação (de mangue) e no comportamento do rio até a foz (curso e maré), mudança do ambiente de água doce para o de água salgada. Tendo como componentes da paisagem o rio, o mangue e a praia.
A Área de Proteção Ambiental do Rio São João é uma unidade de conservação e, a função das UCs é conservar porções ecológicas importantes para diferentes populações, ecossistemas preservando a biologia da local. Esse ato é importante para se conceber extração de qualquer tipo de recurso de forma consciente ou não fazer.

Conseguimos meditar, neste exercício, sobre como funciona uma bacia hidrográfica e, mais profundamente a do Rio São João e suas Unidades de preservação e conservação. Como se comporta e como se dá a relação entre capacidade e competência de cada parte de um corpo fluvial até a sua foz. Também nos contextualizamos com o papel da represa de Juturnaíba e suas ETAS no cenário Região dos Lagos.

Bibliografia

TUCCI, CARLOS, Hidrologia: Ciência e aplicação, Editora da UFRGS, 2007

GONÇALVES LIMA, ADALTO, Rios de leito rochoso: aspectos geomorfológicos fundamentais, 2010


BARRELLA, WALTER, Indicadores ambientais: conceitos e aplicações, EDITORA Educ, 2001

OLIVEIRA, F. L. e MELLO, E. F. A mineração de areia e os impactos ambientais na bacia do rio São João, RJ. Revista Brasileira de Geociências. 37(2):374-389, junho de 2007

GROTZINGER e JORDAN, Para Entender a Terra, Bookman, 2013

APA DA BACIA DO RIO SÃO JOÃO/MICO-LEÃO-DOURADO. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Consultado em 03 de dezembro de 2017

Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental da Bacia do Rio São João/Mico-leão-dourado. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. 2008. Consultado em 03 de dezembro de 2017

SOUZA, N; et AL. Dez anos de História: avanços e desafios do SNUC. Dez anos do Sistema Nacional de Unidades de Conservação: lições do passado, realizações presentes e perspectivas para o futuro. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (2011).

PÁDUA, M. Do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Dez anos do Sistema Nacional de Unidades de Conservação: lições do passado, realizações presentes e perspectivas para o futuro. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (2011)

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